quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O Conhecimento e a Linha 33

O conhecimento é como a linha 33.

        Peguei a 33, pela primeira vez, depois de saber dos outros se parava perto de casa, depois de olhar lá na rua que, sim, de fato, parava perto de casa. Trançando uma reta do ponto de partida para o ponto final, seria a mesma para o percurso que eu fazia diariamente e que eu fiz pela primeira vez na 33. E, ainda que partissem do mesmo lugar e findassem no mesmo local, eu - cheia de vontade de viver, cheia de vontade de andar pelo mundo - me peguei admirada com minha vida ao avesso que aquela janela me mostrava. Admirada com a vida que a própria vida como ela é me mostrava, sob o ângulo daqueles que primeiramente notei ao chegar ali, ao novo lar. Naquele dia, o céu do meu novo olhar era claro, cheio de luz, cheio de conforto do sol que a Cidade do Sol tem quase sempre. Passei por lugares novos, passei por lugares reconhecíveis e outros, há muito tempo vistos, revisitei. Cheguei ao amado lar.

          Depois desse breve conhecimento, me vi pegando o 33 à noite, e que a vigilância parental nem chegasse perto de saber de tal acontecimento. Demorou como nenhum outro pra chegar, e tratei logo de conversar com alguém na parada, para me sentir mais segura. Chegou, finalmente, o 33. E, novamente, o mesmo início, o mesmo meio, o mesmo fim, abraçados pela noite que tanto amo, também; agora, banhado por um chuvisco na Cidade do Sol. O coração acelerado, a admiração de antes, sempre alerta, sempre com a importância daquele novo pequeno acontecimento na vida, de ganhar o mundo, de ir com meus próprios pés, de ver por mim mesma, de querer lutar. Admirada, de novo, com a vida que a própria vida como ela é me mostrava, sob o ângulo de olhos diferentes dos meus, visto com meus próprios olhos. E, debaixo da chuva fina daquele dia, na noite escura, iluminada pelo farol, cheia da luz do farol da minha vida, cheguei ao amado lar.

          Passou um tempo. Sempre vendo o 33 ali, o 56, o 21, e mais outras várias linhas, com aquela pergunta na cabeça: eu conheço de A a F. O que mais existe entre eles dois, aonde mais ela vai? Pois que, finalmente, por obra do próprio universo, vi-me podendo optar entre conhecer aonde mais ela ia ou ver o mais do mesmo. Apesar de terem me aconselhado a ver o mais do mesmo, eu queria há tempos, eu queria naquele momento, saber aonde mais ela iria. E fui. Descobri que posso ir a tantos lugares pegando a 33, descobri que ela para naqueles que fazem parte do meu imaginário, descobri ela passa por muitos outros lugares aos quais vou diariamente, e passa por lugares parecidos com outros que já vi em outros cantos. Ela me mostra muito da Cidade do Sol. Muito que eu nem imaginei que veria daquela janela, que já conhecia e que desconhecia, também. Descobri, em mim. Conheci Desvelei. Aletheia. Naquele momento, existia muito em mim, muito do que eu queria, muito do que eu tenho vivido neste ano, muito do que tem vindo de conhecimento para mim neste ano.

          O conhecimento é como a 33. Permite-nos sentir, ver e rever - e ver a nós mesmos. Possibilita-nos revisitar por outros caminhos, ou pelos mesmos caminhos, e ainda mergulhar fundo neles ou entre eles. É liberdade. Oportuniza desvelar. Concede-nos a possibilidade e a certeza de encontrar verdades, ver que existem várias verdades no mundo e que é possível conciliá-las. O conhecimento é como a trinta e três, é a trinta e três. Permite-nos enxergar com vários olhos, em nós mesmos. É instrumento, é meio e é fim. E também é como tantas outras linhas, as quais podem nos levar aonde for, a lugares inesperados, imaginados ou necessários, com quem quer que seja, e que esperam ser descobertas, que querem de nós curiosidade, que querem de nós vontade, permissão e doação. Aonde mais ele vai? Aonde mais ela vai? Eu digo que sempre além, e não teria como ser diferente.

LJA

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